Sobre jarrões, estatuetas e outros bibelôs avulsos


João Miguel Rodrigues

"Mercado de arte deu um salto qualitativo”

Centro Internacional de Arte Moderna, projecto que será concretizado em Guimarães até 2012, integrará um rico espólio de objectos coleccionados, desde os anos 70, pelo artista, cuja obra reflecte diálogo com as artes africana, asiática e sul-americana.

Correio da Manhã – Tendo como base a sua experiência de artista plástico, recomende duas linhas de força ao artista que actualmente inicia o seu percurso.

José de Guimarães – Primeiro, tem sobretudo que acreditar naquilo que faz. Vencerá os obstáculos que se lhe depararão – e serão muitos ao longo da sua vida artística. Depois, deve estar sempre actualizado, atento àquilo que se passa no meio artístico internacional, para que possa, dentro dos seus parâmetros criativos, estar de acordo com o mundo que o rodeia, que vai evoluindo.

– O Estado e as autarquias mostram-se hoje mais interessados em conferir identidade às cidades através da arte pública?

– Não tenho a certeza disso. É possível que numa ou noutra situação haja um trabalho mais ou menos visível nesse sentido.

– Em Portugal, que exemplo é que daria de integração de obras de arte na cidade?

– O único exemplo que posso citar com mais rigor foi o que se fez na Expo’98 – e estou à vontade, porque não participei. Foi o local onde o projecto artístico se revelou mais coerente. A intervenção artística na cidade tem de começar por obedecer a um planeamento. Fiz alguns projectos de intervenção em cidades, não em Portugal mas, por exemplo, em Kushiro, no Japão, e todos eles obedeceram a um planeamento urbanístico. Tudo o que se fazia tinha um sentido – não era propriamente pôr ali uma peça só porque havia um espaço vazio.

– Julga que os artistas podem dispor actualmente de um interessante mercado junto das entidades privadas em Portugal?

– Aí reside o grande salto qualitativo que se deu em Portugal. Há 30 anos não havia mercado de arte em Portugal. Não havia espaços possíveis para as obras serem vistas. Hoje não faltam museus de arte contemporânea, centros culturais espalhados pelo País, galerias, mercados e feiras de arte. Portanto, do ponto de vista da articulação profissional, os artistas têm a vida muito mais facilitada.

– Qual é a importância que o contacto com o estrangeiro tem no desenvolvimento da vida artística dos jovens?

– Isso é fundamental. É imprescindível que o artista hoje divulgue a sua obra internacionalmente. Não só pelo facto da globalização mas por uma questão de técnica de arte, se se quiser. O mercado português é pequeno e com muitas contingências.

– Em que ponto se encontra a constituição do centro internacional de arte contemporânea a erguer em Guimarães?

– Sei que continua a haver um grande interesse na criação desse centro. A ideia é reunir um espólio que englobe objectos artísticos que influenciaram a minha obra, nomeadamente de África, América Latina e Ásia. E, como está previsto, um núcleo de obras minhas em exposição permanente. O centro será, além disso, pluridisciplinar.


Correio da Manhã

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