Do correio: Dia de Sortes



DIA DE SORTES


Harmónio, tocando leve,

Na tarde de sol e vinho.

Harmónio, da vida breve,

Marcando o breve caminho.


Pelos vãos negros das portas,

Cheira a frituras e a sesta.

Das horas passadas, mortas,

Parece mais morta esta.


Harmónio que vai tocando

Febril, em dia de sortes…

Tirar sortes: - ir buscando

Novos rumos, outros nortes.


Dia de sortes, que é mais

Um passo dado na vida.

- Rapazes, porque cantais

Se é dia de despedida?


Tirar sortes prà marinha,

Ser número um e partir,

Numa alegre manhãzinha,

Prò mar que o há-de engolir…


É pra alegrar, ou esquecer,

O vinho em dia de sortes?

-Ânsia eterna de viver

Outras vidas e morrer,

Talvez – quem sabe – outras mortes.



Poesia de Francisco Bugalho

Editora LG

Fotografia alusiva ao dia de sortes em Castelo de Vide, ano de 1955

Arquivo fotográfico “Geraldo Calha”


enviado por João A. Calha

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