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Os Reis punham termo à quadra natalícia. Esta começava alguns dias antes da Natal com as grupos que cantavam «dos Reses».

Segunda meu pai, estes grupas eram formados por miúdas, que munidas de um presépio. que eles próprias armavam numa caixinha se metiam nos «relejes» a cantar, depois de terem acendida uma pequena vela.

Os donas das casas em cujo patamar cantavam mimoseavam-nos com maçãs, nozes, castanhas, etc.

João António Gordo, na obra «No Alto AIentejo», não falava de crianças mas de maças de lavoura, a que nas leva a crer que este costume sofreu uma evolu­ção antes de desaparecer.

Cantava-se «das Reses» até ao dia 6 de Janeiro, por vezes até mais tarde.

O Ti Zé Raimundo, a quem nos referimos, cantou uma bela tarde para mim «as Reses das a(o)lmas», donde deduzi que havia uma confusão entre os cantares dos Reis e o das Almas, devido ao facto de a época de ambos ser a mesma.

Vim a apurar que ao passo que as crianças can­tavam «dos Reses», o grupo dos que «i im pedi pá(o)s a(o)lmas» era formado por homens.

Muniam-se estes Últimos de uma campainha, e quando chegavam aos «relejes» tocavam-na, começando imediatamente a cantar, recebendo no fim a esmola: queijos, passas, etc.

As pessoas que não estavam dispostas a ofer­tar os cantores, logo que ouvia ma campainha, infor­mavam-nos do facto, pelo que já não cantavam.

No dia de Reis havia Missa.

Era também costume comer as romãs que haviam sido guardadas até esse tempo.

Cada pessoa comia primeiramente 5 grãozinhos dizendo: Im lõvô dos Sa(o)ntes Reses».

Sem cantares, com Missa não obrigatória, com as férias dos estudantes terminadas, reduzido a um dia de trabalho normal, eis o actual dia de Reis de Castelo de Vide, se não contarmos as aconchegadas reuniões familiares tão típicas da vila, feitas à noite, depois de jantar, em dias nomeados.

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Etnologia, linguagem e folclore de Castelo de Vide

Maria de Guadalupe Transmontano Alexandre

Edição: Junta Distrital de Portalegre, 1976

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