e a propósito de carnaval: DESCARACTERIZAÇÃO MASCARADA DE PROGRESSO

Não costumo propriamente ouvir as conversas dos outros mas ontem, no café e sem querer, não pude deixar de ficar triste com a conversa na mesa ao lado.

Uma senhora (turista habitual em Castelo de Vide?) comenta, a propósito da expansão do Bairro da Muralha: “Parece que estamos numa vila qualquer.” (e provavelmente ainda ela não sabe que a autarquia aprovou a substituição do granito dos passeios, por “pavê” de cimento).

Ao que o seu marido prontamente respondeu: “Com o que se tem feito por cá nos últimos anos, Castelo de Vide já é uma vila qualquer”.

Eu, de repente, lembrei-me:

- Das casas devolutas do centro histórico, que são fantásticas e vão acabar por cair, enquanto a expansão urbana se faz, indiscriminadamente;

- Da fonte cruelmente arrancada da sacristia da Igreja de Santo Amaro que, por vontade de alguém, foi cravada no muro do jardim, no centro de um inexplicável painel de azulejos, com direito a banquinhos e a um novo pavimento (uma "sala de estar" no cruzamento mais movimentado da vila?);

- Da obra feita no Montorinho (confesso ser das que mais me entristece) que à custa de se querer “apinocar”, se descontextualizou por completo, sendo actualmente um espaço sem qualquer significado;

- Do estacionamento no Redente de S. João – projecto sem nexo, sem sombra e com mais um painel de azulejos;

- De (ainda) outro painel de azulejos (!!!), desta vez debaixo do arco entre a carreira de cima e de baixo (porquê? para quê? é bonito?);

- Da música na praça D. Pedro V, que enerva de tão má que é;

- E de tantos outros exemplos que levariam todo o meu tempo a escrever, se não me travasse desde já!

Estamos, actualmente, na presença de uma vila a caminho da descaracterização absoluta (mascarada de progresso), uma vila sem estratégia, sem critérios, sem planeamento e sem uma visão global, onde quase todas as intervenções são avulso, desarticuladas.

Será que ninguém percebe que Castelo de Vide não necessita que a "tornem mais bonita", mas sim de que a valorizem?

Não precisamos de “pensos rápidos” por aqui e por ali. Precisamos, urgentemente, de alguém que saiba gerir o património que (ainda) temos e que (não nos podemos esquecer) é de todos!


1 comentário:

  1. eu cá estou contigo. este tema do mais bonita, dos alindamentos a imitar o intigue, dos candeeiros de ferro forjado italianos a 5000 euros a peça e das outas porras todas dava para uma série de posts.

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